Depois de prometer uma ampla reforma no secretariado, prefeito surpreende ao reconduzir antigos nomes e gera insatisfação dentro e fora do governo.
Nos últimos meses, o prefeito Jânio Natal tem dado um verdadeiro cavalo de pau em sua segunda gestão. Após afirmar que faria uma ampla reforma no secretariado — boa parte dele mal avaliado pela população — Jânio surpreendeu a todos ao reconduzir grande parte dos antigos secretários logo após tê-los exonerado.
Entre os nomes mais criticados está Luciano Alves, responsável pela pasta de Serviços Públicos. Pessoas próximas ao prefeito afirmam que ele próprio já vinha demonstrando insatisfação com o desempenho de alguns subordinados, especialmente pela falta de resultados visíveis nas ruas.
A decisão de recolocar figuras desgastadas causou estranheza entre os eleitores. Para muitos, o calcanhar de Aquiles da atual gestão são justamente alguns secretários — muitos dos quais ainda não mostraram a que vieram.
Na Saúde — área que sempre foi um dos pilares das administrações de Jânio Natal — a visibilidade das ações tem sido bem menor que em gestões anteriores. Segundo apuração, o atual secretário enfrenta resistência de uma ala dos servidores da saúde. Na Educação, a situação também preocupa, com poucos avanços concretos percebidos pela população. Já na Administração, o cenário é semelhante: o secretário da pasta tem sido alvo de críticas e é visto como um dos menos produtivos do governo, com pouca visibilidade. Por outro lado, entre os mais bem avaliados estão o chefe de gabinete, secretárias de esporte e a de Tributos e Finanças, cujo trabalho é considerado exemplar.
Apesar de Jânio ser reconhecido como um político habilidoso e com forte comunicação com o povo, nenhum gestor governa sozinho. É preciso ter uma equipe competente, comprometida e capaz de responder às demandas da população.
Não é admissível — segundo muitos moradores — que, para resolver problemas básicos como limpeza de ruas, corte de mato, tapa-buracos, pintura de meio-fio ou poda de árvores, seja necessário que o prefeito intervenha pessoalmente.
Há quem defenda que é urgente uma reforma administrativa, com a substituição de grande parte dos secretários que estariam acomodados, por pessoas que apresentem resultados concretos — e a situação em Trancoso não é diferente. Comentários internos apontam que a gestão estaria engessada, com pouca produtividade — o que pode trazer dificuldades políticas para o prefeito em 2026 na eleição de seus candidatos, especialmente na tentativa de eleger seu sucessor para o próximo pleito.
Muitos aliados avaliam que o maior defeito de Jânio é, paradoxalmente, sua maior qualidade: a boa vontade em ajudar — o que, neste momento, estaria atrapalhando o governo. Essa postura, no entanto, tem trazido prejuízos políticos, já que ele mantém ao seu redor um pequeno grupo de pessoas que não demonstram competência política e, pior, tampouco eficiência administrativa.
Segundo informações obtidas pela reportagem, alguns secretários chegaram a ameaçar romper com o prefeito diante da possibilidade de exoneração. O próprio Jânio, durante a campanha, fez duras críticas a membros do seu secretariado, afirmando que alguns não atendem telefonemas de eleitores e contribuintes — algo que ele considera inaceitável, já que sempre manteve contato direto com a população. Jânio precisa ter consciência de que o Porto Seguro de hoje não é mais o mesmo de anos atrás — e de que ele não terá ao seu lado um grupo tão fiel e leal quanto teve em seu primeiro mandato, com nomes como Miguel Ballejo e Eudes Farias.
Se nada for feito para reorganizar as pastas e colocar cada secretário em seu devido lugar, o que já está ruim pode piorar — e ofuscar o brilho da gestão de Jânio Natal, que, até pouco tempo atrás, era vista como uma das mais atuantes do extremo sul baiano.
Por Roberto Nogueira
Coluna Cara a Cara
