Coluna Cara a Cara – Roberto Nogueira
A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro de lançar seu filho como pré-candidato à Presidência provocou uma reviravolta na política nacional. Em um cenário onde parte do establishment já tratava Bolsonaro como carta fora do baralho, o movimento surpreendeu analistas, desestabilizou adversários e expôs fragilidades do sistema que buscava ditar o rumo das eleições.
Uma estratégia que contrariou expectativas
Há meses, setores da política tradicional, grupos econômicos e parte da imprensa trabalhavam para empurrar Bolsonaro em direção a um nome mais “moderado”. A intenção era clara: enquadrar a direita em um discurso palatável aos interesses da velha política e aos segmentos que preferem estabilidade à disputa ideológica.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, aparecia como o nome ideal desse projeto. Com trânsito no mercado financeiro e em partidos de centro, era visto como a figura capaz de unir o bolsonarismo à área mais institucional da política.
A estratégia, porém, desmoronou.
Bolsonaro tomou a dianteira e fez uma escolha que evidencia controle sobre sua base, força de liderança e independência política.
O sistema reagiu — e revelou seu desconforto
A reação ao anúncio foi imediata. Analistas revisaram previsões, adversários recalcularam suas narrativas e partidos de oposição demonstraram incômodo evidente. A movimentação atingiu o centro da estratégia de grupos que tentavam limitar a influência de Bolsonaro nas eleições de 2026.
Ao colocar um nome de dentro da própria família, Bolsonaro não apenas retomou o protagonismo como também forçou o sistema a assumir que não controla o jogo como imaginava.
Direita fragmentada no início, mas alinhada no desfecho
É possível que o campo da direita chegue ao primeiro turno com mais de uma candidatura. No entanto, a análise política mais realista indica que, no segundo turno, a tendência é de unificação — especialmente diante do desgaste evidente do atual governo federal.
Crises internas, questionamentos éticos envolvendo pessoas próximas ao governo e uma crescente insatisfação popular criaram um ambiente de fragilidade política que não pode ser ignorado. Esse cenário fortalece ainda mais a coesão da direita na fase decisiva da eleição.
Instituições pressionadas e um novo debate no Congresso
Outro ponto sensível do momento político é o desgaste de algumas figuras do Judiciário. A percepção de excessos, somada à promessa de renovação no Congresso, tem alimentado discussões que até pouco tempo eram consideradas inviáveis, como revisões de condutas e debates sobre limites institucionais.
Essa tensão institucional se torna ainda mais visível em um país que atravessa uma polarização crescente e cobra responsabilidade de todos os poderes.
O movimento que reposiciona o debate eleitoral
Ao anunciar seu filho como pré-candidato, Bolsonaro enviou um recado claro: a direita tem liderança, direção e projeto próprio — e não pretende ser conduzida pela lógica da velha política.
O sistema imaginava que poderia impor um nome.
Descobriu que precisará negociar com a realidade.
A esquerda entra na disputa carregando o peso das crises recentes.
O centro busca espaço, mas ainda não encontrou narrativa consistente.
A velha política tenta preservar influência.
E Bolsonaro mostra que, gostem ou não, continua sendo peça decisiva no tabuleiro nacional.
O jogo mudou.
E a decisão de Bolsonaro forçou todos os demais atores políticos a reposicionar suas peças.
