
Porto Seguro, um dos destinos turísticos mais visitados da Bahia, está enfrentando um desafio ambiental e de saúde pública crescente: as florações de algas nocivas, popularmente conhecidas como “maré vermelha”. Uma pesquisa realizada por biólogas da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) aponta que esses eventos, causados pela proliferação excessiva de microalgas tóxicas, têm se tornado mais frequentes e intensos na região, trazendo preocupações sobre os impactos para a saúde pública e o turismo local.
De acordo com a bióloga Catarina da Rocha Marcolin, coordenadora da pesquisa, a maré vermelha é causada pela explosão no crescimento de espécies de fitoplâncton que produzem toxinas prejudiciais tanto para a vida marinha quanto, em alguns casos, para os seres humanos. Entre as espécies mais comuns responsáveis pelo fenômeno estão algas dos gêneros Alexandrium, Gymnodinium e Karenia, que pertencem ao grupo dos dinoflagelados, organismos unicelulares encontrados principalmente em ambientes marinhos e de água doce. Esses organismos têm a capacidade de formar flores de algas, também chamadas de “blooms”, que podem prejudicar ecossistemas aquáticos e representar riscos para a saúde humana.
Quando ocorre a proliferação intensa dessas algas, a água do mar adquire uma coloração avermelhada ou marrom, o que caracteriza a maré vermelha. No entanto, como o fenômeno não está relacionado às marés, o termo técnico utilizado pelos cientistas é “Floração de Algas Nocivas” (FANs).
O estudo intitulado “Padrões de ocorrência de florações de algas nocivas (Maré Vermelha) em Porto Seguro e suas implicações para a saúde pública”, coordenado por Marcolin, revela que a ocorrência dessas florações está associada a uma combinação de fatores ambientais e atividades humanas. A elevação da temperatura da água, a presença de nutrientes provenientes de esgoto e fertilizantes, além das mudanças climáticas, são identificados como principais fatores que impulsionam o fenômeno. A área costeira de Porto Seguro, com sua rica biodiversidade e condições ambientais propícias, tem se mostrado um ambiente ideal para a proliferação dessas algas.
A bióloga explica ainda que a equipe de pesquisa realiza a coleta de macroalgas nas proximidades dos recifes de corais da Praia de Ponta Grande e do Parque Nacional Municipal Marinho do Recife de Fora, em intervalos de aproximadamente dois meses. “Coletamos as algas e, em seguida, liberamos os epífitos, micro-organismos que vivem em associação com elas, e que muitas vezes são responsáveis pela produção de toxinas”, detalha Marcolin.
Sobre os impactos das florações para a saúde humana, Marcolin ressalta que ainda não há dados concretos, uma vez que o monitoramento sobre o assunto está em estágios iniciais. “Para uma análise mais precisa, seria necessário realizar um estudo epidemiológico que associasse os registros médicos aos eventos de maré vermelha, mas, de acordo com informações que recebi, a Secretaria Municipal de Saúde não tem feito esses registros”, afirmou a pesquisadora, destacando as dificuldades em obter recursos para as coletas.
Em resposta a essas preocupações, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Porto Seguro informou que a Secretaria de Meio Ambiente é a responsável pelo monitoramento ambiental, enquanto a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica, deveria ser responsável por investigar os possíveis impactos à saúde humana, especialmente nos casos de pacientes afetados pelas algas nocivas. A Prefeitura também se comprometeu a reforçar o monitoramento e a investigação dos efeitos da maré vermelha na saúde pública local.
A crescente frequência das florações de algas nocivas em Porto Seguro coloca em evidência a necessidade de ações integradas para proteger a saúde dos cidadãos e garantir a sustentabilidade do turismo na região.
Fonte: Bianca Barrozo – UFSB (Jornalismo)