
Bolsonaro jogou a isca, Moraes mordeu e a crise estourou
A ordem do ministro Alexandre de Moraes, impondo tornozeleira eletrônica e prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acendeu de vez a crise política. O episódio não se limita ao Brasil — respingou também na relação entre os governos Trump e Lula, e expôs ainda mais a tensão com o Supremo Tribunal Federal.
Nos Estados Unidos, a medida foi considerada uma afronta. Autoridades americanas classificaram o julgamento como injusto e compararam a um verdadeiro “caça às bruxas”. Muitos analistas já previam que a corda seria esticada — e Moraes não recuou. Com a suspensão de vistos de ministros e a aplicação da Lei Magnitsky contra o próprio Moraes, o embate escalou para um novo patamar.
A decisão de agora não diz respeito apenas ao processo da suposta trama golpista, mas também ao caso de obstrução de justiça. Moraes sabia que, se não agisse, sairia desmoralizado. Bolsonaro, por sua vez, jogou estrategicamente: provocou, criou fatos e forçou uma decisão polêmica que, inevitavelmente, gerou críticas da política e da imprensa. Era exatamente o que ele precisava para incendiar o governo Lula e se colocar como “vítima” de um sistema que o persegue.
A prisão domiciliar, semelhante a medidas já impostas antes, virou combustível para inflamar ainda mais o ambiente político — e também a militância bolsonarista, que enxerga no presidente dos Estados Unidos um aliado fundamental para virar esse jogo contra a esquerda no Brasil. O clima, que já era tenso, agora pegou fogo. Eduardo Bolsonaro chegou a afirmar que “não vai parar até ver Alexandre preso e pagando pelos seus crimes”. A base bolsonarista, mobilizada como nunca, espera novos desdobramentos nos próximos dias. Para muito, Bolsonaro mais vivo que nunca e manterá seu núcleo político ativo.
Resta saber até onde isso vai chegar — e até onde o povo vai sofrer com essa crise que agora envolve dois países. O que já é dado como certo é que Donald Trump não deixará seu aliado ser engolido pelos adversários sem reagir. Novas sanções americanas contra autoridades brasileiras já estão no radar.
Até lá, sigo de camarote, acompanhando o circo pegar fogo.
Cara a Cara, por Roberto Nogueira