Jornal Trancoso News
O recente aumento da tarifa da balsa que liga Porto Seguro a Arraial d’Ajuda não é apenas mais um reajuste impopular. Trata-se de um episódio grave que levanta sérios questionamentos sobre legalidade, fiscalização e a responsabilidade do poder público municipal.
Moradores, trabalhadores e usuários do serviço denunciam que o aumento teria sido imposto pela empresa concessionária sem autorização formal da Prefeitura, o que, se confirmado, configura afronta direta à legislação municipal. A lei é clara: qualquer reajuste tarifário exige decreto assinado pelo prefeito e publicação oficial. Até o momento, não há registro desse ato — e o silêncio da administração municipal fala mais alto do que qualquer nota oficial inexistente.
Serviço caro, precário e sem contrapartida
O que revolta ainda mais a população é o fato de o aumento recair sobre um serviço reconhecidamente precário. Filas intermináveis, travessias lentas, interrupções frequentes, embarcações com manutenção deficiente e ausência de investimentos estruturais fazem parte da rotina de quem depende diariamente da balsa.
O usuário paga caro por um serviço defasado, que não acompanha o crescimento urbano, econômico e turístico da região. A pergunta que se impõe é direta e incômoda: por que aumentar tarifas sem oferecer qualquer melhoria concreta?
O silêncio que compromete a autoridade da gestão pública
Por se tratar de uma concessão pública, a omissão do poder concedente é ainda mais grave. Até agora, a Prefeitura, por meio de seus representantes, optou pelo silêncio, evitando esclarecer se o reajuste foi autorizado ou se a empresa agiu de forma unilateral.
Esse comportamento contrasta com posições adotadas em anos anteriores, quando o próprio prefeito se manifestou publicamente contra aumentos considerados irregulares e chegou a recorrer à Justiça para suspendê-los. A ausência de reação agora causa perplexidade e alimenta a percepção de que a gestão municipal abriu mão de sua autoridade, permitindo que a concessionária dite regras sem o devido controle institucional.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura. Segundo a informação repassada por um funcionário, o Município não irá se manifestar sobre o assunto. A decisão de manter o silêncio, especialmente diante de um tema tão sensível, amplia ainda mais a indignação da população, sobretudo daqueles que dependem da travessia diariamente para trabalhar, estudar ou acessar serviços básicos.
População reage e prepara ações judiciais
Diante da falta de respostas, moradores já se organizam para recorrer ao Judiciário, não apenas contra a empresa concessionária, mas também contra a Prefeitura de Porto Seguro. As ações devem questionar:
a imposição de reajuste sem respaldo legal;
o descumprimento da legislação municipal;
a falha grave na fiscalização do contrato de concessão;
os prejuízos diretos impostos à população usuária.
Um problema estrutural ignorado há tempo demais
O episódio escancara um problema antigo e conhecido: a travessia entre Porto Seguro e Arraial d’Ajuda opera há anos sem planejamento, modernização ou transparência. O reajuste da tarifa, da forma como foi conduzido, apenas aprofunda a desconfiança da população e evidencia a fragilidade da gestão pública diante de interesses privados.
Enquanto o poder público insistir no silêncio e na inércia, a balsa continuará sendo símbolo de descaso, abuso e desrespeito com quem sustenta o sistema: o cidadão
